Este texto foi publicado originalmente no blog da Margem Editora, em 17 de março de 2022.
escrever
como se isso pudesse enfim me salvar do que tanto acredito escapar.
escrever
já faz tanto tempo que me arrasto pelo corredor
que perdi a referência de hora minuto dia ou noite
como se fosse infinita a vida que me habita
como se fosse calma e contida
a emoção de me perceber viva.
se eu soubesse ao menos tirar daqui de dentro
a carne que me compõe, mas que também já apodreceu
como se eu pudesse amputar o sentimento de não pertença
e a vontade infinita de ser amada.
escrever
ser incongruente na fala e nas palavras que registro
aqui, ali, em todo lugar
como se ao registrar num léxico
eu alcançasse a liberdade de ser
como se ao rabiscar essas palavras letras espaços
eu me permitisse a coragem de perder o controle.
escrever
um modo de registrar estes pensamentos-flexas
que me atravessam, me machucam e também me suportam.
se eu contasse a vocês o que se passa do lado de dentro,
talvez eu não precisasse fugir
- porque vocês já́ teriam corrido primeiro.
escrever
como se ao me afastar de tudo e todos
eu parasse de tentar ser aquilo que não suporto
e, então, poderia vagar por todos os espaços
sem me sentir perdida, apenas sem direção.
escrever
como um modo antigo, tosco e quase inocente de sobrevivência
ser frágil em toda intensidade que o papel e caneta permitem.
escrever
pois aqui tenho-me inteira
e ninguém precisa levar se não for levar tudo.
Olá Paula Maria, primeiramente eu estou amando você. Fui apresentada pela minha Titi Lulu (Maria Luiza), e estou vendo sua essência no seu Blogger. Sua intensidade de retratar seus sentimentos e sensações é nítida e perspicaz. Também escrevo desde meus 8 anos. Na década de 90 não tinha computador e eu escrevia cartinhas aos amigos, meus familiares e meus professores. Assim meu hobbies era ler e escrever, além de nadar, patinar e ir para a praia. Bom espero muitíssimo ter a chance de te ver muito em breve. Já me tornei sua fã. E serei sua leitora nata, viu!!!!